quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Gorda, magra, gostosa



A Rosa puxou o assunto e eu vou continuar: corpo feminino. Mas não vou falar de plus-size, apesar de admirar e apoiar o movimento. Até porque, em mim, o plus-size é só na inteligência e na simpatia (risos): mal chegou nos 1,60 m. e faço o tipo mignon, apesar de odiar essa palavra (já me imagino embalada numa bandejinha no açougue do supermercado).

Sei que, como é quarta-feira, deveria falar de sacanagem. Na verdade, vou falar, porque é de verdade uma sacanagem o que a natureza faz com nós, mulheres.

Magra, gorda, gostosa, mulherão: quero que atire a primeira pedra aquela que nunca reclamou de uma gordurinha aqui, uma celulite ali, uma estria acolá. É a bunda muito grande, o peito muito pequeno, a “pochete” na cintura: toda mulher tem sempre alguma coisa que quer mudar.

Mas se engana quem pensa que mulher não está nunca satisfeita. Nada disso. O problema, senhores, é mais embaixo (ou mais em cima, mais do lado, mais aqui, mais ali...). É que o corpo feminino muda muito, e acaba faltando tempo pra gente se acostumar.

Quando você começa a achar um charme o quadrilzão e a cintura fina, pimba! Some a cinturinha. Daí você acha legal ter peito pequeno, e um dia acorda com tudo inchado. É assim: não bastassem as mudanças que acompanham o cliclo menstrual, aquele vai e volta, incha e desincha, ainda passamos por mudanças bruscas ao longo dos anos.

Você, mulher, pense em como era seu corpo quando você tinha 14 anos. Agora, lembre dos 17, depois dos 21 e agora veja os 25. Cada hora uma mulher, não?

Ok, dos 14 aos 17 as mudanças são totalmente compreensíveis. Mas e depois? Eu tenho reparado nisso em mim o tempo todo. Mas há uma grande diferença no meu modo de perceber isso.

Dos 14 aos 17 eu era magra, e comia. Comia muito, descontroladamente, o tempo todo. Chocolate, sorvete, bala, bolo, pipoca, hamburguer, pizza, tudo num mesmo dia. E não engordava. Mas ficava nervosa, estressada, fazia regimes malucos no dia seguinte: o dia todo tomando chá. Durava até as 10 da noite, então eu me arrependia, comia bolo, pipoca, sorvete e chocolate, tudo junto, e ia dormir. Acordava arrependida, e então passava o dia comendo frutas. Até as 10 da noite, num ciclo sem fim. Mas – o que era mais importante: continuava sempre magra, 6 quilos mais magra do que sou agora – e não estava feliz: eu queria o corpo da capa da revista.

Aos 20, eu engordei uns três quilos e eles nunca mais foram embora. Eu já não me desesperava mais.

Agora, aos 24, engordei mais três quilos. Tenho 6 a mais do que tinha aos 16, nem tudo está no lugar como estava naquela época, e olha que eu como bem menos, mas veja só: me preocupo bem menos também! Não fico mais ansiosa, nervosa, estressada. E, no final, ainda acho graça de gostar muito mais do meu corpo agora do que quando tinha 16 ou 18 ou 21.

Vejam bem: a natureza feminina não faz sentido, e também não nos favorece. O corpo muda o tempo todo e a gente sempre reclama. Aparecem gordurinhas, celulites, estrias, o peito cresce, diminui, a barriga aumenta. Mas assim como o corpo, a mente e o espírito também mudam e a gente aprende a se gostar, e ver charme nos defeitos que nem são defeitos assim: são particularidades. Sorte nossa!


*Mas a gente sempre reclama, que é pra não perder o costume de ser levemente irritante. Faz parte.

Um comentário:

Rosa disse...

que texto lindo, Carol! adorei. e conforta saber que a loucura não é só nossa.